ESTRANGEIRO

Eu não sou daqui

Sou estrangeiro

Não tenho família

Nem companheiros

Meus filhos

Não os tive

Sou só eu

Ninguém mais

Não falo a sua língua

Mas, converso com você

Na fila do pão

Na banca de jornal

Na feira, se vou à feira

Eu digo:" Je voudrais..."

E se você me entender

Sinto - me um seu compatriota.

Eu sei, você se apieda

Por eu não ter ninguém

Não se preocupe, moço

Na minha terra, eu era estrangeiro

Também.

Se ninguém me convida

Para um almoço ou jantar

Mais um motivo para eu cozinhar

Enquanto aprecio meu cozido e um

bom cálice de vinho

Me divirto com as risadas

Na casa do meu vizinho

Ou pelas praças vou andar

Para ver o dia passar

Olhando a vista

A vista a apreciar

Sempre fui estrangeiro

Vivendo longe

De todo ou qualquer afeto

Como um pedinte

Um sem teto

Com o privilégio do teto

Outro dia, numa conversa longa

Me pediram três nomes

De amigos bem chegados

Pensei, pensei um bocado

Lembrei-me do Alberto, do Campos

Do Ricardo.

Lembrei - me até do Fernando

Foi aí que a pessoa me disse:

"Viu aí, é um bocado de gente"

Eu respondi - "se é...muita gente

E pra uma alma somente"

Hoje mesmo o Reis veio me visitar

Deixou - me de poemas

Um bocado

Um para cada vazio, solidão e mau trato

Vou me sustentando do infortúnio

De viver um exílio voluntário

Nesse mundo vasto

Vasto mundo.

Um dia meu dia chega

Chame ou não

Raimundo.

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 18/06/2017
Reeditado em 18/06/2017
Código do texto: T6030913
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