A MULHER DO BAR
Ela não era velha
Mas a sua voz era
Tinha a voz "topterm" da Aracy
Aquela da propaganda
Que a gente morre de rir
Chegava no bar no início da tarde
Pedia uma cerveja e ficava à vontade
No começo era discreta
Acendia um cigarro
E fumava quase ereta
Esperava as "coleguinha",
Falava num mineres arrastado
Que iam chegando e de todo lado vinha
Entravam requebrando, tomando lugar no balcão
Por trás do batom mal pintado, um tanto assim de solidão
Uma cerveja atrás da outra e um cigarro também
Pouco a pouco se libertavam e a tudo diziam amém
Aracy comandava soltando uma gargalhada
Começavam as histórias, brincadeiras e piadas
Discrição? Etiqueta? Educação?
Não, não havia não.
Falavam, riam e gritavam
E os poucos ouvintes apenas cochichavam
A noite ia chegando, as pessoas se alternando
Mas, Aracy e as amigas não saíam do lugar
Só um pulinho no banheiro para o batom retocar
Diante de um público maduro começavam a ousar
Uma piscada explícita, um bilhetinho indecente
Uma conversa picante para quem quisesse ouvir
Soava como uma proposta para possível pretendente
Mas, o pretendente não vinha, quem vinha era o garçom
Com um balde d'água fria para lavar o salom
A madrugada caindo, a Aracy também
A meia calça desfiada não lhe caía bem
Se despediam da noite com um beijo e um abraço
A maquiagem borrada pelo suor do cansaço
Meio cambaleante ela chegava no carro
O flanelinha ajudava pegando-a pelo braço
Na despedida ele dizia, em tom de sinceridade:
_ Aracy, você para mim é que é mulher de verdade.
Adelaide de Paula Santos em 07/05/2017, às 21:56.