Ônibus - 2º Ato

Me deparo aqui de novo

com a mesma situação de outrora.

Não é um ano novo,

e também ainda não possuo nora.

Também não será agora,

se fosse; eu já estaria com ela.

O fato não muda,

dessa vez fui encantado.

Não é a primeira vez que a vejo,

mas sim, a única que imagino um beijo.

Um toque.

Basta um olhar para imaginar

emoções futuras,

sentimentos.

Uma obra-prima,

um ato que me fez delirar;

Me encantou.

Ah, como me encantou.

Não sei se fora Ludvig, Bach, ou talvez Tchaikovsky.

Mas o fato é que em apenas um movimento,

um pequeno ato,

involuntário,

algo já comum em sua incrível vida.

Ela tocou,

e como tocava.

Não havia instrumentos,

além da agradável tortura que me fazia.

Seus magníficos, pequenos e dedicados dedos movimentavam-se uma sincronia,

em que o instrumento era o banco

e a tablatura, sua alma.

Essa pequena e talvez inerte reação, fez-me ter imaginações

sexuais, românticas e até infantis.

Mas em todos os delírios, o fator comum era ela.

Dessa vez, novamente nos separamos.

A culpa, ou o destino,

ainda foi por minha causa.

Dessa vez, quem cede o navio sou eu.

Esse barco do amor,

ou ônibus,

ou céu,

ou cupido,

talvez o destino.

Levantei-me, tentando disfarçar minha luxúria.

Desci as escadas, dando-me por tolo.

Ao parar na calçada, vejo a locomotiva abandonando,

o vento frio nos separando cada vez maior.

E a única coisa que me restava,

era a esperança de vê-la novamente.

Marquês de Verona
Enviado por Marquês de Verona em 13/04/2017
Código do texto: T5970093
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