CÁRCERE DO LAR

Somos como dois anciãos exilados,

Presos no cárcere de nosso lar.

Fechados por dentro pela minha mão,

Eu e o meu cão.

Ficamos aqui nesse claustro de silêncio e ternura,

N’algo a que não se nomeia.

O mundo lá fora amanhece, entardece e anoitece.

Permanecemos aqui juntos em silêncio.

O dele e o meu cativeiro,

Escolhido e decorado,

Fechado e lacrado,

Três voltas na chave,

Como se houvera o risco iminente de um ataque.

O silêncio aqui dentro,

O dito e o não dizendo,

Tudo compreendendo.

Eu e meu cão.

Às vezes, o som do piano recorta o ar,

Uma valsa, um estribilho a anunciar.

Uma certa alegria,

Ou melancolia,

Que será?

Nos despojamos dos planos,

Nos ocupamos a sonhar,

Esse é o nosso presente.

Estar presente e ao mesmo tempo,

Não estar...

Adelaide de Paula Santos em 02/04/2017, às 18:29.

Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 02/04/2017
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