ÚLTIMA POESIA

Se resta um mar,

faça um barco e vá,

trace um arco no ar,

viaje entre o poente e o amanhecer,

procure a ilha onde tecem ventres chuvosos,

lá estão os que deixaram para trás o esquecer...

Se resta uma rua, caminhe,

entre na viela e escape do crime

que se apresenta como um senhor de arma em punho,

saiba que as chuvas de março acabarão em junho,

acenda teu coração e ilumine o beco de tantos pés,

saiba que como eles eu sou e também tu és...

Se nada resta,

que nada reste da soma de todos os dias,

que pelos menos não afunde a última poesia,

é o que resta a quem vive de por e tirar,

modo definitivo a quem deu de sonhar e amar...