O homem das bandejas

O homem recolhia as bandejas na praça de alimentação.

Era ele num universo paralelo a cumprir sua função.

Discreto, quieto, ele e só ele.

E ele recolhia as bandejas

Enquanto as pessoas passavam felizes

Iludidas entre comidas caras e sacolas cheias de corações vazios.

Ele que recolhia os restos de comida, seguia.

Firme, imperturbável em seu propósito.

E seguia, recolhendo as bandejas na praça de alimentação.

Uma a uma, de mão em mão a encher o carrinho

Era ele, e ele sozinho.

Será que esse homem que serve

Impenetrável em sua concentração

Levava no rosto as marcas das trajetórias indefiveis que outrora tinha?

Mas ainda assim ele recolhia

E servia, enquanto os estranhos sorriam e comiam

E comemoravam qualquer tolice sem sentido

E aquele homem que seguia

Recolhendo as bandejas de comida

Tocou meu coração em silêncio

Porque eu o vi, vi ele e só

Era ele e eu, num universo paralelo de atenção

Onde ele recolhia, e eu me perguntava

Onde é que ele estaria se tivesse todas as oportunidades que deveria ter da vida?

Onde é que estaria, o homem resiliente que as bandejas recolhia?

Charlene Angelim
Enviado por Charlene Angelim em 03/02/2017
Código do texto: T5901411
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