O homem das bandejas
O homem recolhia as bandejas na praça de alimentação.
Era ele num universo paralelo a cumprir sua função.
Discreto, quieto, ele e só ele.
E ele recolhia as bandejas
Enquanto as pessoas passavam felizes
Iludidas entre comidas caras e sacolas cheias de corações vazios.
Ele que recolhia os restos de comida, seguia.
Firme, imperturbável em seu propósito.
E seguia, recolhendo as bandejas na praça de alimentação.
Uma a uma, de mão em mão a encher o carrinho
Era ele, e ele sozinho.
Será que esse homem que serve
Impenetrável em sua concentração
Levava no rosto as marcas das trajetórias indefiveis que outrora tinha?
Mas ainda assim ele recolhia
E servia, enquanto os estranhos sorriam e comiam
E comemoravam qualquer tolice sem sentido
E aquele homem que seguia
Recolhendo as bandejas de comida
Tocou meu coração em silêncio
Porque eu o vi, vi ele e só
Era ele e eu, num universo paralelo de atenção
Onde ele recolhia, e eu me perguntava
Onde é que ele estaria se tivesse todas as oportunidades que deveria ter da vida?
Onde é que estaria, o homem resiliente que as bandejas recolhia?