O Homem Da Passeata
É de terra a rua minha,
Cheia de sulcos e buracos.
De pedras, existem cacos,
Que furam a sola dos sapatos
De quem por ali caminha.
O homem da passeata,
Da voz aguda e do timbre alto,
Prometeu passar asfalto
Sobre esta rua desnudada.
Extasiado de alegria,
À passeata eu aderi.
Votar nele, prometi,
Quando chegasse o dito dia.
Tudo certo. Homem eleito!
Exerci cidadania.
Em minha rua caminharia,
Sem poeira, sem buraco.
Por sobre ela, o belo asfalto,
Pelo homem da passeata, feito.
Três anos se passaram.
Da passeata, só memórias.
Em minha rua, mais histórias
De sapatos que rasgaram!
A poeira levantava
E cobria os dias quentes.
E o barro que ali formava
Quando vinham as torrentes?
O quarto ano chega, enfim,
Com panfletos e santinhos.
“Venha! Chame os seus vizinhos!”
“Dê seu voto para mim!”
Lá vem ele outra vez,
Com os braços estendidos,
Prometendo nos seus ditos
Aquilo que nunca fez.
Quatro anos, ir-se-ão.
E mais quatro, e quatro mais.
O asfalto, aqui, jamais!
Mas passeatas, sempre terão.