O poeta da cara amassada

Não acalenta ouvir conversas alheias

Que nada transmitem à consciência.

Não entra em transporte coletivo

Pois tem aversão ao que não se conhece.

Sabe que a cara amassada

Vem com o que não se entende.

Guarda livros em sua estante,

Pois os livros não amassam a sua cara,

Por serem inofensivos.

Usa guardanapo para limpar seu rosto

Pois é cara amassada mas limpa.

Amassa papéis, quando escreve sem nexo

E desamassa sua cara quando escreve direito.

Evita escritórios...

Neles amassam sua cara,

Chefes então nem se fala,

Pois lá vem bofetões.

Assim segue o poeta da cara amassada

À procura de lisuras (sem as grosserias alheias)

A evitar ouvir besteiras

Que diante de si só a família não diz.

Poeta da cara amassada...

Cheio de olheiras e dores na cabeça

De tantos murros de falatórios

Do grupo dos ignorantes.

Poeta gladiador,

Jogador que joga fora qualquer dor

E desamassa a cara com os poemas.

Marcelo Canto
Enviado por Marcelo Canto em 28/12/2016
Código do texto: T5865642
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