OS BALAÚSTRES
Os balaústres, estáticos observadores,
enquanto adornavam o centro da cidade
assistiram ao ocaso da ferrovia e, magoados,
deram adeus aos últimos vagões que partiram
para longe, carregados de minério
resquícios da nossa riqueza estadual.
Os balaústres, impotentes,
viram a antiga estação ferroviária cair em ruínas
abandonada pelo poder público, como sempre
desidioso com nossa história.
Os balaústres, n’outros tempos,
foram reduto para encontros românticos
ouviram suspiros, sentiram calores
ruborizaram-se com carícias atrevidas,
testemunharam muitos casos extraconjugais.
Os balaústres, curiosos,
viram ébrios foliões despirem as fantasias e,
licenciosos, amarem-se carnavalescamente
sobre os trilhos do trem.
Os balaústres, condoídos,
viram meninas chorarem desilusões de amor
estudantes sonolentos arrastarem-se para a escola
garotos valentões brigarem por bobagens,
sangue e suor derramados ao término das aulas.
Os balaústres, crentes,
assistiram às procissões na Santa Semana
e, nas noites de maio, inocentes anjinhos
marcharem apressados, ao ritmo da filarmônica,
velas, palma e pétalas de rosa nas mãos
para a coroação da Virgem na igreja matriz.
Os balaústres resistiram ao tempo,
mas foram danificados por vândalos inconsequentes
filhos da elite local deseducados pelo poder financeiro
que, como sempre, ficaram impunes
a debochar da ineficácia de nossas leis.
Os balaústres, infelizmente,
fecharam-se num mutismo eterno.
Se quisessem, poderiam falar d’outras épocas,
contar muito sobre nossa gente...
mas alguém se interessaria em ouvi-los?