conversando numa manhã
lembro de estar sentado
numa cadeira à sua frente
e ele falava e falava e
eu não sabia mais como
reagir sem esboçar meu
sorriso torto de quem
parecia se importar com
todas aquelas palavras.
mas era bom pra distrair,
pra me parar de fazer
pensar por algumas horas.
pra fazer minha cabeça
descansar.
as conversas eram sempre
as mesmas, e, embora a
repetição exagerada me
cansasse, eu conseguia
aprender algo
com todas as palavras e
frases já conhecidas e
até mesmo decoradas.
ele falava rápido, contava
os fatos do passado como se
tivessem acontecido na noite
anterior. fatos de vinte,
trinta anos atrás.
e nisso, no meio de uma de
suas aventuras,
vi um pequeno
pássaro
pousar no chão à minha
frente, atrás do homem
grande que não parava de
me bombardear com suas
histórias.
o passarinho balançou sua
cabeça, deu uns dois pulos
e por final pegou uma
aranha,
daquelas que se alimentam
somente de moscas.
seu ataque foi rápido,
decidido e mais interessante
do que qualquer coisa que eu
ouvi.
o animal pôs o bico pra cima
e engoliu a aranha, depois de
uma ou duas mordidas, coisa
que já não me recordo direito,
mas pude ver claramente ele se
alimentar e voltar a voar
satisfeito.
era um pássaro cinza, de cabeça
mais escura e de torso branco.
suas patas eram das cores de
seus olhos. negros como o
abandono é.
e ao reparar nisso, voltando
para o mundo real, eu lembrei
de Hemingway.
imaginei o jovem homem sentado
num bar em Paris com seus
amigos
observando atentamente
todos os movimentos de cada um
que entrava e saía do recinto.
todos os vícios de fala, todos
os vícios de andares, todos os
vícios pessoais; aqueles detalhes
íntimos que ninguém espera ser
captado.
imaginei o velho homem sentado
num barco de pesca
observando atentamente
todos os movimentos dos peixes
que fisgava. todos os movimentos
que as águas faziam, da calmaria
ao nervosismo e voltando para a
paz no final.
imaginei aquele homem
sentado na minha frente
contando qualquer história
de sua vida
que não tivesse contado
em nenhum livro, para nenhuma
amante ou amigo.
tive que me despedir do sujeito
que conversava comigo, para poder
ir dormir, já e bem satisfeito
com a coisa mais interessante que
eu afirmo ter me acontecido
naquela semana.
e também
com a imagem de um sujeito
que nos últimos dias de vida
encontrou-se com o cérebro
deteriorado pela vida.
lembro de estar sentado
numa cadeira à sua frente
e ele falava e falava e
eu não sabia mais como
reagir sem esboçar meu
sorriso torto de quem
parecia se importar com
todas aquelas palavras.
mas era bom pra distrair,
pra me parar de fazer
pensar por algumas horas.
pra fazer minha cabeça
descansar.
as conversas eram sempre
as mesmas, e, embora a
repetição exagerada me
cansasse, eu conseguia
aprender algo
com todas as palavras e
frases já conhecidas e
até mesmo decoradas.
ele falava rápido, contava
os fatos do passado como se
tivessem acontecido na noite
anterior. fatos de vinte,
trinta anos atrás.
e nisso, no meio de uma de
suas aventuras,
vi um pequeno
pássaro
pousar no chão à minha
frente, atrás do homem
grande que não parava de
me bombardear com suas
histórias.
o passarinho balançou sua
cabeça, deu uns dois pulos
e por final pegou uma
aranha,
daquelas que se alimentam
somente de moscas.
seu ataque foi rápido,
decidido e mais interessante
do que qualquer coisa que eu
ouvi.
o animal pôs o bico pra cima
e engoliu a aranha, depois de
uma ou duas mordidas, coisa
que já não me recordo direito,
mas pude ver claramente ele se
alimentar e voltar a voar
satisfeito.
era um pássaro cinza, de cabeça
mais escura e de torso branco.
suas patas eram das cores de
seus olhos. negros como o
abandono é.
e ao reparar nisso, voltando
para o mundo real, eu lembrei
de Hemingway.
imaginei o jovem homem sentado
num bar em Paris com seus
amigos
observando atentamente
todos os movimentos de cada um
que entrava e saía do recinto.
todos os vícios de fala, todos
os vícios de andares, todos os
vícios pessoais; aqueles detalhes
íntimos que ninguém espera ser
captado.
imaginei o velho homem sentado
num barco de pesca
observando atentamente
todos os movimentos dos peixes
que fisgava. todos os movimentos
que as águas faziam, da calmaria
ao nervosismo e voltando para a
paz no final.
imaginei aquele homem
sentado na minha frente
contando qualquer história
de sua vida
que não tivesse contado
em nenhum livro, para nenhuma
amante ou amigo.
tive que me despedir do sujeito
que conversava comigo, para poder
ir dormir, já e bem satisfeito
com a coisa mais interessante que
eu afirmo ter me acontecido
naquela semana.
e também
com a imagem de um sujeito
que nos últimos dias de vida
encontrou-se com o cérebro
deteriorado pela vida.