Travessia - O avesso
... E do espelho ovalado
Um mundo inverso lhe esperava.
Sem promesas
Sem sonhos
De uma mente adormecida,
Apenas o imaginário.
Era segredo, dessegredado
Contado aos sete ventos
Que a menina a muito enloucara,
E ela louca se ria
Dançando uma sinfonia
Que apenas ela ouvia.
E a cada dia
Feita de sorrisos,
De pés descalços
Transpunha o umbral
Para um lugar que só na sua cabeça existia,
Excedia ao tempo,
Lograva a vida,
Era a sua travessia.
Quem acreditaria que a verdade era aquela
Que a cada viajem um pouco dela transcedia?
Mas...
Mataram seus sonhos
Roubaram seus devaneios.
E os risos
Agora perdidos
Foram diminuindo...
Seu reflexo aos poucos sumindo,
Na transformação de uma vida vazia.
Apenas uma leve imagem ficava,
Do que fora outrora a pobre menina.
Que espelho era aquele?
Que vida era aquela?
E quando enfim a loucura repousara
E a lucidez aos poucos retornara,
Findou a imagem retorcida,
desvaneceu-se a menina.
Qual sopro de vela
Tal fogo de palha
Agora apenas rugas...
A morte lhe espera.