OLHOS
Olha o lixo prolixo
Olha bem se não é só tu que existes...
Olha se latas e corpos são iguais
Olha que ossos de arvores são nossos ancestrais
Que ficaram plasmados pra não serem levados por seres astrais
Olha não só de fora de teus olhos abissais...
Olha que teu umbigo é das tuas cicatrizes a mais divina
Porque te une a religião e a capela Sistina
Tua mãe maria e amarilinas, até libras esterlinas
Olha o plexo sem nexo como os pés cansados macerando a vinha
Olha o complexo teorema do sexo
Olha os olhos sem visão
Olhos de alugares tantos
Olhos de tantos lugares
Olha os contra da contradição
Olha o langor na fila da eutanásia
Olha o amargor dos diabéticos
Olha o sal saindo dos olhos do hipertenso
Olha o equilíbrio que jaz na escuridão do cemitério faminto
Olha o que os olhos não tocam
O que os olhos não veem
Olha o que os olhos veem e nada enxergam
Olha o oftalmologista dançando na escuridão de teu baile
Tentando tatear com olhos o que tua pupila faminta
Só o entrega em braile...
Senão com os dedos como incensos de absinto
Olha e verás que tudo é mistério
Olha a vida que passa enterrando teus medos
Sem nunca te levar a sério...
Mais, só olhes, porque um dia deixarás de ver
Que neste mundo o balão sobe e desce
Assim como teu ar já ficou para trás
E a nenhum comando mais teu corpo obedece...