FAÇA, POESIA...

Toma, poesia,

as palavras que restaram fora do caderno,

faça com elas o que fez com o dia

que iluminou este tempo hodierno...

Delas, se não me engano,

uma só ainda não fez planos,

prefere que faça acontecer estares,

viva planta submersa em teus mares...

Arranca delas a carranca feroz,

o sangue que lhes corre em veias

não é o mesmo que alguém atroz

pôs como vinho na última ceia...

Faça, poesia,

como faz a noite quando rasga a roupa e as estrelas mostra,

faça como o mesmo corpúsculo em Vênus ou Marte que cria

o sangue do espaço e o reparte em cem milhares de postas...