NO VENTRE DO VIADUTO ( Do livro "Poemas Urbanos e Outros Planos" )

Conquistado, resoluto

Ser humano quase-bicho

Fazendo de lanche o lixo

No ventre do viaduto

Vi criança, quase adulto

Do lixo fez o brinquedo

Brincando de não ter medo

No ventre do viaduto

Vi um traje, tão fajuto

No pai quase vivente

E um tubo de aguardente

No ventre do viaduto

Vi um garoto astuto

Simulando acrobacias

Pelos trocados nas vias

No ventre do viaduto

Vi também um corpo enxuto

Menina quase mulher

Vendendo-se por um qualquer

No ventre do viaduto

Vi a mãe cumprir o luto

Chorando de canto a canto

Pelo filho quase santo

No ventre do viaduto

Vi porrada, vi insulto

Da justiça quase honesta

Tirando o feto que resta

Do ventre do viaduto

Carlos Felipe Sarmento
Enviado por Carlos Felipe Sarmento em 23/08/2016
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