NO VENTRE DO VIADUTO ( Do livro "Poemas Urbanos e Outros Planos" )
Conquistado, resoluto
Ser humano quase-bicho
Fazendo de lanche o lixo
No ventre do viaduto
Vi criança, quase adulto
Do lixo fez o brinquedo
Brincando de não ter medo
No ventre do viaduto
Vi um traje, tão fajuto
No pai quase vivente
E um tubo de aguardente
No ventre do viaduto
Vi um garoto astuto
Simulando acrobacias
Pelos trocados nas vias
No ventre do viaduto
Vi também um corpo enxuto
Menina quase mulher
Vendendo-se por um qualquer
No ventre do viaduto
Vi a mãe cumprir o luto
Chorando de canto a canto
Pelo filho quase santo
No ventre do viaduto
Vi porrada, vi insulto
Da justiça quase honesta
Tirando o feto que resta
Do ventre do viaduto