Pretérito do Futuro
Um notívago acordado por obrigação
Um morcego de sapatos no meio da multidão
Mal-humorado, rosto amassado,
Olheiras fundas, olhos no chão
Um vampiro; sol a pino
Pleno verão.
O caminho é o mesmo e é outro
Porque eu mudei
Algo saiu errado
Mas não fui eu que errei
Estudar, acordar cedo
Concursos, nome na lista
Pois nunca será tarde
Pr’um sonho capitalista
Pressinto um trabalho a me esperar
Pressinto um comissionado em meu lugar
A certeza que tenho que estudar
Para chegar-se na incerteza
De por sorte se empregar.
Um notívago vigia, porrete na mão
Diploma empoeirado, emoldurado, no porão
Salário de fome, que some, desolação
Um morcego de sapatos;
Maus-tratos de um mundo-cão
08/1997