GRITO
Sim, dois anjos,
um para te dizer que há flores desabrochando,
outro para te contar, dos homens, os desmandos,
e você, no meio do caminho,
a colher flores no meio dos espinhos,
e você, a crer e a desacreditar,
aprendendo o modo certo de amar,
às vezes junto, às vezes sozinho...
O horror do menino sentado na cadeira lambuzado de sangue,
o horror de ver o outro lambuzado, no shopping, de morango,
saber que somos caranguejos situados nesse estranho mangue,
injustiças humanas e não sabemos o porque e nem até quando...
Não, não, vou dar um tiro na minha cabeça,
não, não, vou mudar minhas incertas certezas,
vou, sim, esfregar palavras de amor na face da miséria,
tingir o cérebro dos tiranos com a tinta da minha artéria,
gritar até explodir os pulmões, gritar até morrer,
acordem, acordem, acordem, acordem, acordem,
abram os olhos, aceitem, vivos para viver...