A CIDADE
Apagaram-se as luzes da cidade,
A cidade adormeceu.
Entre as paredes do casario,
A vida ainda não morreu.
Passam-se histórias curiosas,
De vidas misteriosas.
Se as paredes tivessem ouvidos
E falassem,
Tanta coisa se saberia das casas
Que estão acordadas,
Onde a vida secreta se desenrola,
Encoberta e mal contada.
A um canto, um cão ressona, um gato
Mia e a tartaruga dorme.
O relógio de parede bate uma hora,
O poeta escreve uma poesia,
Um homem saboreia o último cigarro,
Um casal seu amor sacia.
E assim mais uma noite se consome
Nas nuvens que a envolvem,
Enquanto a vida de muitas pessoas
Ainda tem muita coisa pendente
Para resolver no dia que se segue,
Insónias que as perseguem.
Só muito mais tarde, altas horas,
A cidade completa silencia,
Nem ruídos dos insectos se ouve,
Apenas o pingo intermitente,
Da água duma torneira avariada,
Cuja factura será agravada.
Ruy Serrano - 18.08.2016