QUANDO A POESIA...

Quando a poesia te escolhe você já está morto para a vida antiga...

Seus sapatos apertam, as gravatas se enforcaram, os anéis se foram,

você não se reconhece no espelho, nem com quem você se parece,

a cama parece cheia demais, vazia demais, você vai dormir no campo...

Quando a poesia te esbofeteia para que acorde desse humano torpor

você grita como se espadas de fogo perfurassem teu corpo,

você não aceita mais justificativas que enganem a alma,

suas mãos tentam tocar o imponderável, você chora...

Quando a poesia te toca seu corpo se torna música

e os anjos dedilham teu espírito cheios de cordas celestes,

todas as coisas ganham vida, (a que já tinham e você não via),

o tempo, recolhido em sua ampulheta, te oferece três eternidades...

Quando a poesia te prepara para o próximo poema

é porque já gastou o néctar celeste de tuas veias,

torna a enchê-lo, torna a torná-lo capaz de voar,

as palavras docemente se deitam aos teus pés,

o silêncio, que nunca disse nada, diz te amar...