Somente Só
Me deitei na calçada dura
Para sentir a estrutura
Onde fica o morador de rua
Estava bem agasalhada
Mas a sensação é de que estava nua
De tão frio que lá estava
E o cheiro forte do chão
A sujeira e a poeira
Me deixou quase sem respiração
Então eu entendi
Porque debaixo do braço
Há sempre uma garrafa
De bebida destilada
O álcool por ele ingerido
Faz seu corpo ficar enrijecido
E a mente anestesiada
Pela cachaça danada
Nada consegue sentir
Por isso vem a dormir
Com o corpo dilacerado
Fica esperando o coitado
O outro dia chegar
Já se esqueceu de tudo
Da sua vida passada
Não se lembra de nada
Se teve família ou não
Muitos passam e nem percebem
Pois o mal cheiro que carrega
Faz a gente se afastar
Vem o sol, o frio e a chuva
E ele se encontra no mesmo lugar
Não sente sabor pela comida
Quer somente a bebida
Para poder se acomodar
E dia após dia vive a esmo
Sem coragem para se reerguer
Sua vida é um torpor sem medida
E ele somente espera
A hora da sua partida!