POLÍTICA EM CIDADE PEQUENA
A cidade, sempre calma, se agita
tinge-se de cores - faixas e bandeiras.
Olhares desconfiados, sussurros nas equinas
população dividida.
Dormir torna-se algo impossível: carros de som rodam o dia inteiro
com as insuportáveis músicas de campanha;
nunca faltam os candidatos estranhos
e um politiqueiro enjoado que sempre apanha;
tem também os eternos puxa-sacos
que parecem dormir nos comitês;
o candidato que, normalmente arrogante, busca agora demonstrar
alguma camaradagem
e o vira-folha, sempre à procura de alguma vantagem!
E tem as pesquisas!
Feitas pelo maior órgão especializado
em descobrir o pensamento das pessoas: a língua do povo!
Povo, neste caso, é a reunião das pessoas citadas acima,
num banco de praça,
com um pedaço de folha de caderno rasgada, uma caneta Bic azul,
sendo que o politiqueiro que apanha vai falando:
"Fulano é nosso, sicrano é deles".
Paira no ar um clima hostil
as pessoas esquecem parentesco, amizade, religião,
a própria dignidade enfim.
Impera um surto de ideias fixas,
as pessoas não conseguem mudar de assunto...
Passará a política e, para essas pessoas para as quais
eleição é melhor do que Copa do Mundo,
a vida, se não piorar, continuará exatamente igual.
Mas convém mantê-las assim
pois se elas pensassem mudaria nosso quadro social.
É preciso que as coisas permaneçam exatamente iguais
e que as pessoas acreditem que conseguirão mais coisas
se idiotizando do que utilizando suas faculdades mentais!