CORTEJO

Se Deus houvesse de baixar cá bem embaixo,

de ver de perto mil gostosuras e mil torturas,

de ver o homem que planta e o que arranca,

o que salva e o que deixa se perder na dança,

o que põe e o que tira o que sobre a mesa está,

o que rouba de quem nada tem, nem pra sonhar,

se visse as fronteiras entre as bocas e o pão,

haveria de ver homens perdidos, sem coração...

Mas o cortejo segue sem a mão que leva ao céu,

caem alguns outros, outros se vão no beber do amargo fel,

somos retirantes a pedir um pouco de consolação,

roubem tudo, só não nos roubem o coração...