EFÊMERA ETERNIDADE

Coisas que eu não entendo:

o vento batendo na janela, querendo entrar,

eu, do lado de dentro, a escutar sua voz sem língua conhecida,

tremendo de frio, agasalhado sob o cobertor, a ver tv;

outra coisa é a estátua grega sobre a mesa

como se espiasse esse mundo sem o reconhecê-lo,

olhos sem íris, tez de mármore esbranquiçado;

não entendo meu reflexo no espelho,

que o que vejo não é o que sou;

nem a poesia escrita em pedaços concretos,

com palavras duras como açúcar queimado,

seus versos enrijecidos, suas metáforas,

o não entender como o melhor entendimento;

o relógio que muda as horas como se tivesse dedos,

o tempo que se escoa nos olhos dos grãos de areia,

e eu, a voltar as horas, como se estancasse o fluir

de instantes nos quais sumo adentro;

não entendo porque devo entender de alguma coisa

se o mais importante (eu acho) é estar com todas elas

vivendo como se a vida fosse existir depois que os olhos

esquecem das paisagens e só enxergam o lado de dentro

de cada coisa criada para viver essa efêmera eternidade...