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De frente ao televisor

mastigo as notícias como fossem espigas de palavras,

imagens de cavalos, helicópteros sobrevoando estradas,

roo as unhas e os acontecimentos aparecem e fogem de repente,

sírios despedaçados, astronautas contentes, a França desorientada,

a polícia apagando grafite nos muros do palácio, armas encilhadas,

o mundo ao redor entrando em convulsão,

eu, sentado no sofá, diante da televisão...

De frente ao mundo,

ruminam ideias de suicídios coletivos, igrejas convidando ao céu,

o homem, esse macaco nervoso e faminto, a brincar com vidas,

a descoberta de uma bactéria que comerá outra bactéria

que come a nós com a voracidade das moto-serras,

manuais de sobrevivência para se viver na cidade,

tudo com p, padres, políticos, pedófilos, pernósticos,

desligo o televisor da sala, ligo o outro no quarto,

o mundo a correr atrás de mim,

me cubro, me escondo, me acham, as notícias,

o que será de nós, o que será de mim?