COMO OS BONS VINHOS

Costuro o dia à noite e nos bolsos guardo estrelas

para perdê-las quando estiver em seu caminho;

as poesias, se não as digo, como sabê-las

se de boa safra como são os bons vinhos?

Aparecem pelas esquinas pessoas que buscam viagens,

sonhos como pedras que brilham no mais denso escuro,

corações molhados e suas lágrimas abreviam a estiagem;

já colhi tantos que tenho um colar deles, eu juro...

O tempo, rodando suas engrenagens, almoça e janta;

nós, pequenos sonhos que erram pelas estradas do infinito,

na tela celeste das imagens imemoriais, límpida e branca,

expomos nossas entranhas amorosas, sussurros e gritos...

Corpos se abraçam e incendeiam o frio das folhas ressecadas;

o amor, essa pomada que passamos sobre nossa única pele,

nos devolve a seiva que renova nossas almas violadas...