MAL DO SÉCULO
Louco, saio à rua em noite abafada e quente,
grito à lua como se meu coração fosse tão antigo como ela,
canto para esquecer que em mim existem vazios que solenemente
os guardo para que não se encham de coisas vãs, querelas,
me arrependo e peço perdão como se de repente
viesse ela se debruçar em minha janela,
feliz, risonha e contente...
Mais louco ainda, me tranco no quarto em noite gelada,
espio pelas frestas o esquecimento que me acena da rua,
o perdão que passa a arrastar pelos cabelos a ofensa velada,
todo coberto por lã e mantas, mesmo assim minh'alma
morre de frio, nua...
Grito um nome qualquer, (bem que poderia ser o seu),
escuto o silêncio que ri, o vento que se afasta, sereno,
nem mais consigo dizer uma palavra de um poema meu,
aceito com serenidade o desfazer-me no mal do século,
virtual, intocável, cibernético e malévolo veneno...