DO CÉU AO CHÃO
Quem dera poder dar-te os versos que não consigo escrever
e receber de ti os que não põe no branco papel
para que visses de que outra forma vivo a viver;
to mostrasse a encarnação da pureza do fel
e uma grama de bem do meu encarnado céu...
Quem dera quisesses meu coração para um ensaio
sobre a cegueira do amor entre seres capazes de amar;
verias-me no palco a trafegar meus sentimentos, cambaio,
tábua despregada do barco em mar revolto a navegar,
mês que escapou do calendário, sem flores, triste Maio...
Que pusesses tuas mãos sobre as minhas e as afagasse,
que meu afago em inteiro tamanho a ti todo retornasse;
ambos seríamos os que não viram as lágrimas cristalinas,
nem pepitas de choro a caírem do despenhadeiro do coração;
os que puderam, por um instante divino, sentir a vibração fina
que une todas as coisas, quaisquer que forem, do céu ao chão...