ESTRANHO JUÍZO
Só o homem que sonha com a liberdade
vê os vãos entre as grades de ferro;
só o homem que sonha com a verdade
esquece o choro e enuncia o berro...
Só o homem que sabe de sua origem
visita os bonobos e os cumprimenta;
sabe que veio de uma viagem-vertigem
para estar no século em que se orienta
pelas antenas e satélites e energia vital,
avança sobre mutilações sedimentares,
esquece o banho, o perfume, volta a ser animal
mesmo que crie, para sobreviver, avatares...
Só o homem que leu palavras com plasma
sabe que o sangue do infinito corre em suas veias;
só o homem que dentro da batalha se acalma
vive o tempo que dura nos grãos de sua areia...
Só o homem que emprestou seu coração ao amor
conhece a força do punhal da avassaladora separação;
só o homem que revolveu a terra e plantou uma flor
sabe o que carrega na mochila do seu coração
que ama sem saber o nome e o quê pretende com isso,
só ele conhece as profundezas estranhas de seu juízo
e é por essas e outras que desfere contra a solidão o murro
que quebra seus dentes e diz à ela o som de seu urro...