NA PARTITURA DO ESPAÇO
Já não faço planos,
nem de morrer de amor,
nem de assaltar bancos,
muito menos de supor
que aja uma saída desse labirinto
por onde passam deuses antigos,
por onde caminham aqueles do Olimpo
a carregarem a Terra em toda a sua tristeza...
Já não caminho ao lado de faunos e centauros,
tenho uma vaga lembrança da inquestionável beleza
que povoava cada canto deste nosso planeta...
Hoje sou mais homem do que ontem e menos do que amanhã:
sei que a autoria da vida está em cheque e algo nos encurralou,
nos tornamos objetos movidos por mentes não tão sãs...
Já não ergo taças e nem brindo ao mistério,
nem faço do riso o rosto do palhaço tão sério:
apenas vago entre fendas que descortina a luz...
Já não teço a renda que recobrirá os mansos e os ferozes,
estamos empilhados em caixas como se fôssemos nozes
levadas ao mercado onde se persignam em nome daquele na cruz...
Viver? é mais do que o menos do que nos fazem querer:
somos o espelho de um universo que mora e foge em nós;
n'algum dia, na partitura do espaço, cantarão nossa voz...