A TODOS OS SANTOS
Chama teu santo, baixinho, não aos prantos,
bem na hora do jantar, faça ele desligar
o televisor com as notícias do céu,
diga a ele que a gente'stá ao léu,
comendo o pão que o padeiro amassou
nas madrugadas insones por falta de amor,
peça a ele um milagrezinho qualquer,
um riozinho que desça trazendo seus peixes,
que os arquitetos lá de cima não nos deixem
perambulando pelas maquetes desses daqui,
palafitas que ruem, basta uma nuvem sorrir,
diga que vai gravar a novela e manda em DVD,
completa, nenhum capítulo ninguém vai perder,
ore como quem sabe os números da sorte,
é o único jeito de escapar da primeira morte,
reze com mais força e apego para não desmoronar os barrancos,
eles sabem que estamos caminhando aos solavancos,
escreva num papel bem branco as palavras tão manchadas,
diga que a poesia caminha só por nossa estrada,
por fim, faça o sinal da cruz e se despeça numa humilde oração,
diga que está mandando, um tanto machucado, seu coração...