UM HOMEM EXILADO
Dizem que para um homem ser exilado ele precisa
ser expulso do seu país, pelos mesmo motivos
que se atira uma acha de lenha para acender
o fogo de poucos, ao redor, que vêem
a madeira queimando e os olhos
em estado de prazer...
Um homem pode se exilar dentro de seu próprio corpo,
ser uma ilha distante da terra povoada por forasteiros,
ver de longe o oceano partir o barco de quem escapa
levando o mapa onde mostra onde está seu coração...
Este homem pode arguir, a seu favor,
não se considerar em concordado estabelecimento de regras,
não aceitar as regras estabelecidas no manual da convivência,
furtar-se a passeios noturnos onde vai só, escolha pessoal,
guardar-se das festas ociosas e nem comemorar datas,
por cercas e retirá-las, seja no outono onde se roubam frutas,
seja no verão, onde os cães sujam o jardim sem o consentimento
do dono da casa, que porventura estará a ler um poema na sala...
Um homem exilado tem a seu favor a sua crença,
o seu modo de reparar nos pássaros que passam, apressados,
o jeito com que separa o lixo, a música que ouve,
as palavras que escolhem para o seu próximo poema...
Quem não é exilado, por motivo nenhum,
só observa, por detrás da cortina,
o vulto do homem que tece
seus dias como a aranha
tece a teia para a sua fome...