ESCREVA, ESCREVA, ESCREVA...
Você diz que toda mulher é sua irmã,
todo homem é seu irmão,
mas a primeira coisa que fazes é por cadeado no coração,
a segunda é eletrificar a cerca, toda manhã,
evita ser amistoso, isso pode tornar seu vizinho perigoso,
pode querer te cumprimentar, te abraçar,
querer comer seu macarrão dominical,
beber seu chá de ervas finas,
nadar na tua piscina,
ser teu igual,
mas...pare:
Olhe ao redor,
veja como o mundo se tornou um tanto quanto pior,
a lucidez esta enterrada nas poesias no fundo do quintal,
ninguém saberá dos teus versos se continuares imerso,
a fresta em tua janela lembra, quando espias, Hannibal, o Canibal,
o homem pode viver sem dentes, mas não sem parentes,
teu tio, o Sol, tua cunhada, a Lua,
teus primos, Saturno, Júpiter, Plutão,
tua prima, Vênus...
A poesia, ao menos, que sabemos possuir todos os sentidos,
dorme com a sabedoria e acorda cruel, vã ignorância,
ao menos sabemos que o silêncio domina o ruído,
não havia sinfonias quando foi criado este mundo adormecido...
Escreva, escreva, escreva, escreva até que se acabem as palavras,
então escreverá o que nada diz, o que diz nada,
o que não faz sentido, muito além dos olhos de vidro,
escreva até que se acabe o sangue fonético,
até que nada reste, nem semiótico, nem lírico,
apenas teus lábios entorpecidos pelo som do ópio do ego...