BEM DEPOIS...
Depois que as horas da tarde se deitam e se vão,
o barulho dos pés que passam atravessam o pátio da minha solidão,
ouço o farfalhar de asas, o comer das traças,
a graça dos insetos que devoram, discretos,
as folhas da macieira lassa...
Depois que a noite sacode os ombros e espalha diamantes,
piso devagar na relva macia diante da casa solitária,
estrelas se dão as mãos e cantam a ciranda do sol,
as olho, quase triste, dá-me dentro uma dor,
um quase réquiem em mi bemol...
Depois que turvas águas descansam e o rio corre manso,
espio a madrugada a deitar orvalho sobre secos galhos,
suas mãos atravessam nuvens de crepom e espargem
gotas como fossem lágrimas que brilham no escuro,
lá, no mais alto das parede estendida entre casas, o muro,
um gato espia meus versos e mia como fosse um uivo turvo...