Sentir e pertencer

As vezes a gente para e repara

Quantas voltas o mundo deu

E você nem se quer percebeu

Parece que ontem estávamos sentados na calçada

Nossos amigos brincando de mãos dadas

Em uma bela ciranda que girava e girava

Infância doce, tempo leve que me alegrava

Com pouco, com nada

E o mundo girou e girou

A gente cresceu, quase amadureceu, mas pirou

Pirou com a adolescência

Um curta demência

Em não aceitar o mundo como ele realmente é

Negamos os pais, a amiga careta, aquele mané.

E deixamos um coração por ai e nunca encontramos

Um mundo diferente como aquele que sonhamos

O passado fica no passado

Retratado com uma foto, um papel amassado

Com segredos que nem mesmo fazem sentido

Talvez fosse algo prometido

Ou até sofrido

Mas sempre o passado vem para o presente

Com a lembrança de um abraço quente

Daquela mãe perfeita quando se estava doente

Crescer as vezes parece sofrido

Mas levo comigo um sorriso

Porque sabe, ele é preciso.

Vivo uma vida ciente

Que meu passado é presente

Porque estou aqui, contente

De tudo que me tornei, acho que sou gente.

E ai o tempo parou um pouco

Lembrei que fui louco

Com a minha vontade de gritar o mesmo grito que um dia me deixou rouco.

Aquela semente do passado brotou

Hoje sou muda, mas árvore, ainda não sou

O agora bateu de volta, e soou

Que apesar do passado,

O que vale é o presente

Esse que ainda vai me deixar saudades

Vou lembrar desse tempo que parou

Do dia que fui muda

Que uma árvore formou.

Recordar é viver

É crer

É querer florescer

Com o adubo que a vida pode fornecer

Quando se ama ser,

Sentir e pertencer.