Avenida Brasil
Na avenida engarrafada
Sem livro nem celular,
Mantenho-me animada
Simplesmente a imaginar.
O ônibus geme e range
Entre vidros e ferragens
Levando a todos nós
Nesta última viagem.
O caminhão da Sedex,
Aqui parado ao meu lado,
Leva cartas a ninguém,
Pois tudo virou passado.
O viaduto, que estranho!
Dá voltas... para no ar!
Pois, se a cidade morreu,
Onde ele iria chegar?
O hospital está em obras,
Mas todos foram curados:
Não existem mais doenças...
Libertem os internados!
Passa um carro da polícia
Tocando sua sirene
Sem notar que não precisa,
Pois agora há paz perene.
A Linha (infra)Vermelha
Suporta um arco-íris
Onde flutuam, alegres,
Carros cor de amarilis.
Um vendedor ambulante
Grita ao nada, com ardor.
Oferece a ninguém
Água, saudades e flor.
A Serra do Mar são ondas
Que avançam sobre a cidade
Banhando prédios vazios
E expondo a verdade:
Que nosso Rio morreu
Numa câmara de gás
Do gasômetro cruel
E tudo no Caju jaz.
(Verônica - 25/02/2016)