Caminhando nas nuvens
O entardecer era tão belo aquele dia
Iniciei a caminhada…
Pela praia que parecia deserta
Uma brisa fresca vinha do mar
E afagava todo meu corpo fragilizado
Pelas lutas cotidianas e pelas incertezas da vida
Enquanto há poucos metros
Um bando de gaivotas famintas
Disputavam entre si, algumas sardinhas feridas
Deixadas para trás pelos pescadores alentejanos
Os meus pés iam deixando uma estrada na úmida areia
Os meus passos se apressavam em caminhar
Não queria olhar para as coisas que ficaram atrás
Nem fixar os olhos nos ganhos e nas perdas
Não podia parar, precisava caminhar
Mas não sabia onde poderia chegar
Assim é a vida: um fio, um estalo, um sopro
Porém é infinita, eterna, imortal
A vida é um enigma misterioso
Que temos que decifrar a cada dia
E é preciso fazer de cada momento
Um século, um milênio, uma eternidade
E de mansinho a noite veio chegando
Envolvida nas névoas da escuridão
E continuava a eterna caminhada
E dentro de mim havia uma guerra que o mundo desconhecia
E aos poucos fui descobrindo que ainda havia esperança
E os meus olhos aos poucos foram desvendando
Que nem tudo estava perdido
E aprendi que, se a vida não for um dia de sol
Talvez poderá ser uma noite repleta de estrelas
E caminhei noite adentro
Pois tinha certeza que nas funduras do horizonte
Além da negra escuridão
Iria nascer um lindo amanhecer
Cheio de vida, cheio de cores, impregnado de luzes e repletos de amores