O andarilho
Mais um dia,
Um,
Entre tantos outros.
Despertadores alienados começam a tocar,
No desespero,
Não deseja que se atrase,
Pois de compromissos,
Depende vossa existência.
E a danada da rotina se apresenta,
Lavar o rosto,
Escovar os dentes,
Ou banho,
Tudo depende do cliente,
Que consome está lastimável senda.
Se alimenta acompanhado de telejornais,
Transmitindo a rotineira desgraça alheia,
Ônibus,
Trem,
Metrô,
Trânsito,
Um roubo de moto no Butantã,
E assassinato em alguma vila.
Segue para o trabalho,
A pé,
Ou em transporte coletivo,
Reza,
Em prece pede proteção para mais um dia,
Outro dia de exploração,
Se acertar,
Agradece ao patrão,
Quando erra,
Já sabe,
Sofre a temida punição.
Termina o expediente,
E na volta,
Pensa nas contas que deixou de pagar,
O atraso te cobra multas,
Taxas,
Juros,
Tudo para te preocupar.
Seu celular não para de tocar,
Cobranças de toda parte,
Pois a dádiva da vida é cara,
E seus benefícios,
Quase descartáveis,
Não foram feitos para durar.
Chegando em casa,
Outro turno
Tens a missão de pai, mãe,
Marido, mulher,
Não basta a sua cobrança sobre si,
Tem que escutar a de outros,
Que esperam sempre mais de ti.
Outro final de semana,
E não há dinheiro para aproveitar,
A diversão é em frente a TV,
Ou se abstraí,
Diante a tela,
De um celular.
Sente a falta de algo,
Um vazio,
Que necessita ser preenchido,
Mas não consegue identificar,
Chora,
Aos anjos pede ajuda,
E se há um Deus,
Suplica,
Implora,
Pede para si a loucura,
Pois deseja largar tudo
E partir,
Sem destino,
Nem bagagem carregar.
O andarilho que vive em ti,
Só deseja esquecer,
E caminhar.