Espiral Existencialista

Todos os dias, ao abrir os olhos, minha visão logo se embaça pela inebriante rotina. "Tudo outra vez?" E a outra voz responde: "Sim", num tom ríspido de "engole o choro e vá em frente". Vá em frente pelo mesmo caminho da infelicidade, onde o que fazia sentido passou a não ter mais significado.

A cada passo, me desfaço; uma parte de mim é deixada para trás, massacrada por uma violenta camada de desalento. Onde está a menina sonhadora que, a cada percurso, sentia-se mais plena? Por que, ao olhar agora as crianças no parque, não consigo mais sorrir? Por que o vento que bate em meu rosto já não fala mais comigo? Quem está comigo, afinal, nesse terror real?

O cotidiano me aterroriza, me cutuca e me vira do avesso. Ah, se eu tivesse o mundo em minhas mãos, como ele seria diferente! Mas quem pode garantir que o universo funcionaria em plena harmonia sob o controle de uma mera iniciante? O que fazer, então? Olhar no espelho e aceitar ser uma partícula minúscula diante do universo. Baixar minha cabeça perante o cosmos e aceitar dançar nessa peça teatral de encontros e desencontros.

Se o mundo não muda, quem há de mudar sou eu. Absorta no abismo, sou condenada à escuridão com uma sentença perpétua. Será que para sempre serei infeliz? Onde verei a luz no fim do túnel? De fato, ela existe, ou inventaram essa história para que os bobos esperançosos caíssem? O fio da esperança me mantém equilibrada nessa corda bamba que é viver, pois, se esse fio se desfizer, o abismo irá me chamar.

Sim, meu amigo Cartola, o mundo é um moinho, e ele já triturou meus sonhos tão mesquinhos. É isso que a realidade faz: cospe na sua cara e te joga em um labirinto; cabe a você decidir o caminho. Tantos e tantos caminhos... Existe um certo, afinal? Eu não sei. A única certeza é que o que estou trilhando me conduz à incessante infelicidade de um mundo ilusório, que nunca atenderá minhas expectativas tão arbitrárias.

São tempos difíceis para os sonhadores. Ou eles colocam os pés no chão e encaram a realidade estupidamente crua, ou criam um próprio mundo repleto de contos de fadas — até baterem contra o muro da vida real. É aceitar ou cair da corda bamba. E, sinceramente, como é cansativo viver em meio a tantas escolhas! Escolher é se angustiar e, segundo nosso camarada existencialista Kierkegaard, termino minha fracassada ambição com a seguinte frase: "A angústia é a vertigem da liberdade."

Cora Fox
Enviado por Cora Fox em 24/03/2025
Código do texto: T8293120
Classificação de conteúdo: seguro