Dos dias que Deus concedeu

Dos dias que Deus concedeu,

As horas pôs-se a contar;

Foi quando ele se perdeu,

Com medo de se encontrar.

De si próprio se esqueceu,

Foi de tanto se preocupar

Com o tempo que já correu,

Do que não irá retornar.

Numa tarde, lhe ocorreu,

Estava a olhar o mar,

Contando os segundos seus,

Medindo os dias em par.

Em espanto, compreendeu:

Faltava-lhe o que contar;

Desses dias que Deus o deu,

Restava-lhe só um luar.

Quando a lua nasceu,

Tentou nela se encostar;

O corpo não obedeceu,

Mas não desistiu de tentar.

E quando, enfim, se ergueu,

Seu coração a palpitar,

Foi acalmando e cedeu

Seu corpo para o mar.