Sozinho, num canto escuro da casa
Ele era um bom homem,
uma ótima pessoa,
um cara fantástico.
Respeitava as leis,
atendia com ética,
quando possível, sorria,
mas sempre cumprimentava
a quem pudesse ser cumprimentado.
Não era religioso, mas gostava de ler
e ouvir sobre todas,
era um cara que foi educado
para ser uma pessoa comum, honesta mesmo.
Era sensível,
inteligente,
gostava das coisas mais simples,
feijão, arroz, carne, suco;
sorvete, refrigerante.
Tinha saudades dos tempos de criança,
saudade de sua querida mãe, sua querida avó,
tinha saudade da família, errada, briguenta,
mas era sua família.
Ele era um rapaz que gostava de ler,
gostava de saber dos poetas, escritores,
diretores de cinema, atores, todos
que produziam a arte para ser eternizada
dentro da mente e do coração.
Casou-se, teve filhos, teve uma casa com sua própria
família.
Mas com o tempo seu EU foi ficando sem vida, sem nexo, sem alma;
despertando aos poucos um ódio ao próximo,
foi se afastando, renegando a tudo e a todos.
Ele agora está sozinho, solitário, no vazio, longe.
Está numa casa bem humilde, bem simples.
Não sabe tocar nenhum instrumento musical
mas canta ao lado de sua vitrola, herança do passado,
músicas que amam cantar em voz alta,
sozinho, num canto escuro da casa.