Vida real
Nas calçadas, nas praças, há muitos enfermos; nas favelas, a esmo, repete-se o mesmo.
Dos famintos, moribundos, vagabundos, oriundos de todos os cantos, ouvem-se seus cantos—uma só melodia, em várias vozes irradia a disputa pelo pranto.
"Não é para tanto", dizem os especialistas.
A desigualdade é culpa do povo: do pedreiro, do taxista, do caminhoneiro, da diarista.
E na capa da revista, a oportunidade!
Surge a promessa nas vielas da cidade.
Homens e mulheres desejam liberdade,
Mas a realidade os ofusca,
O pão diário não sustenta essa busca.
Os braços e pernas se dobram ao cansaço.
Aos homens sobra o aço, a solda e o maçarico;
Às mulheres, o de sempre: almoço, casa, criança e fuxico.
A promessa se perde na concretude da vida.
Do pobre, um potencial suicida,
A tropeçar no céu,
Do alto de um arranha-céu,
Acima de uma avenida.