O Acidente da Vida
Eis que a vida, em seu capricho ardente,
Traça linhas tortas no papel do existir,
Um tropeço, um rasgo no fio da mente,
E o destino, impiedoso, põe-se a rir.
Era um dia como outro, tão banal,
Mas o acaso, em sua sombra tão fria,
Fez da sorte um espelho desigual,
Quebrando sonhos na luz do meio-dia.
Oh, cruel ironia dos dias vadios,
Onde o instante espreita, pronto a ruir!
Um grito silente no breu dos vazios,
O sopro da alma começa a partir.
E tudo o que fomos—pó e memória—
Despenca, sem pressa, no abismo sem cor.
O que resta, senão a eterna história
De amores perdidos, do efêmero ardor?
Mas, ah! A flor renasce do chão partido,
Pois até na dor há lume e beleza.
A vida é um acidente bem vivido,
Um mosaico de ruínas e nobreza.