Pai Velho II

Sentado no mesmo banco de madeira

Agora gasto, carcomido pelo tempo,

Encaro o silêncio que grita em meu peito,

Enquanto o bar permanece vazio de rostos,

Mas cheio de memórias que não consigo beber.

O copo à frente está seco,

E o cigarro, apagado entre os dedos,

Deixa um cheiro de saudade no ar.

Não há fumaça para esconder meu rosto,

Nem goles para adoçar o amargor do ontem.

Droga! Não ouço mais o velho barbudo,

Seu grito ecoa apenas dentro de mim.

Ele se foi, levando consigo

A sombra que tanto temi,

Mas que agora me faz falta.

Olho para o espelho rachado no canto,

E não vejo mais o reflexo de um zumbi,

Apenas um homem marcado pelas escolhas,

Com olhos que brilham não de lamento,

Mas de um arrependimento calado.

A calçada do purgatório ainda está lá,

Mas os passos que a percorrem são outros.

Agora são leves, quase hesitantes,

Como quem pisa sobre a própria redenção,

Sem saber se a merece ou se a deseja.

Pai velho, eu te herdei,

Não os vícios, mas o peso das ausências.

Carrego em mim o que não disseste,

E no silêncio da tua despedida,

Encontro meu ponto de partida.

Não há mais pinga no fundo do copo,

Apenas a água de um rio que quero cruzar.

E nas notas amassadas do meu bolso,

Não vejo o preço de amores fugazes,

Mas o valor de um amanhã possível.

Hoje, o espelho não é mais um inimigo.

As rachaduras contam histórias,

Mas minha imagem se reconstrói.

E ao brilho banzo dos teus olhos,

Respondo com uma prece silenciosa:

Pai velho, descansa. Eu caminho agora.

João Paulo Leal e Renato W Lima
Enviado por João Paulo Leal em 02/01/2025
Código do texto: T8232458
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