Pai Velho II
Sentado no mesmo banco de madeira
Agora gasto, carcomido pelo tempo,
Encaro o silêncio que grita em meu peito,
Enquanto o bar permanece vazio de rostos,
Mas cheio de memórias que não consigo beber.
O copo à frente está seco,
E o cigarro, apagado entre os dedos,
Deixa um cheiro de saudade no ar.
Não há fumaça para esconder meu rosto,
Nem goles para adoçar o amargor do ontem.
Droga! Não ouço mais o velho barbudo,
Seu grito ecoa apenas dentro de mim.
Ele se foi, levando consigo
A sombra que tanto temi,
Mas que agora me faz falta.
Olho para o espelho rachado no canto,
E não vejo mais o reflexo de um zumbi,
Apenas um homem marcado pelas escolhas,
Com olhos que brilham não de lamento,
Mas de um arrependimento calado.
A calçada do purgatório ainda está lá,
Mas os passos que a percorrem são outros.
Agora são leves, quase hesitantes,
Como quem pisa sobre a própria redenção,
Sem saber se a merece ou se a deseja.
Pai velho, eu te herdei,
Não os vícios, mas o peso das ausências.
Carrego em mim o que não disseste,
E no silêncio da tua despedida,
Encontro meu ponto de partida.
Não há mais pinga no fundo do copo,
Apenas a água de um rio que quero cruzar.
E nas notas amassadas do meu bolso,
Não vejo o preço de amores fugazes,
Mas o valor de um amanhã possível.
Hoje, o espelho não é mais um inimigo.
As rachaduras contam histórias,
Mas minha imagem se reconstrói.
E ao brilho banzo dos teus olhos,
Respondo com uma prece silenciosa:
Pai velho, descansa. Eu caminho agora.