O fim do mundo é quando findamos.

Mãos calejadas seguravam a pá,

No peito algo tamborilava,

Tum dum, tum dum, tum dum,

Ressoava o som da marcha fúnebre.

A face estoica. Estática. Conformada.

O ambiente opaco. Denso. Inóspito.

Onde profusos sonhos alheios, outrora vivos,

Repousavam sob a terra.

Um pequeno punhado de gente caminhava,

Testemunhava a despedida.

Quatro mãos carregavam a urna,

Apenas uma poderia soterrar.

Olhos inexpressivos, em negror,

Despediam-se em silêncio.

E a caixa descia, e descia, e descia

Na profunda fenda da inexistência.

Abraços, sussurros ao ouvido, despedida.

A marcha fúnebre volveu à saída,

E uma alma viva apenas restou no lugar.

Ali ficaram as mãos, a pá, a urna e o tempo.

E naquele breu que parecia infindo,

A urna começava a ser encoberta.

Parava, fitava, contemplava, soterrava.

A noite parecia eterna.

Mas as mãos calejadas da experiência

Sabiam que nada era eterno,

Exceto sua própria existência.

O fim do mundo é quando findamos, refletiu.

Pelos olhos inexpressivos outrora choveu.

As mãos calejadas antes não tinham a força.

No seu primeiro cortejo, desfez todo o soterro,

Deixou exposto a carcaça e o espectro.

Mas não era mais o primeiro

Tampouco o segundo, tampouco o último.

Os fantasmas possuem poder apenas

Se a putrefação do cadáver é exposta.

Assim como o conteúdo da urna,

Aquela noite um dia findou,

E o tempo que o soterro levou

Dependeu do trabalho daquelas mãos calejadas.