Máscaras do Tempo
Sepulto o resto, o tempo, num sorriso que invento.
Passa como brisa, vento, águas de riacho raso.
Nas flores belas, tão de passagens, na dor que fere, cura e bem morre.
E tudo é uma pintura, molduras velhas, espinhos antigos, tintas tão gastas.
Enquanto esboço sonhos, finjo não sentir o fim.
Os dias meus escorrem, envelheço em pincéis que perecem.
Disfarço as dores, enganos tolos.
E abate o sol, o tempo curto de um dia lindo.
Cai de canseira nos montes e demora uma lua.
Do brilho tanto, sobram se sombras.
Dormita a noite na cor escura, na turva e penumbra de todo fim.
São cinzas, nada além de um feio horizonte.
E além da pedra que enfeita a tumba, restam fiapos de lembrança, retratos e feiúra.
O quadro mentiu, a beleza era uma farsa.
O passado é quadro que desgasta, beleza e poeira.
Daqui a pouco o sol retorna.
Jovens e sonhos, montes bonitos, cortinas novas.
Tão lá à frente, um outro tolo, uma mentira que não cessa, sorrisos que se inventam.
Tão curtos, duram os dias da ilusão.
João Francisco da Cruz