POEMA DE UMA MUNDO ALVO

Quando cheguei, um anjo pálido,

desses que dormem nos livros,

disse: Vai, Augusto! ser coragem na vida.

As portas espiam meus passos,

hesitam, fecham-se, somem.

O mundo talvez fosse justo,

não houvesse tantas barreiras.

Os dias passam cheios de vozes:

vozes graves, baixas, roucas.

Para que tanto ruído, meu Deus, pergunta meu coração.

Mas meu rosto,

de expressão calma, não pergunta nada.

O homem de pele clara

é resistência, luta e força.

Fala pouco, mas fala.

Tem coragem por companhia,

o homem que faz da dor sua estrada.

Meu Deus, por que me fizeste tão alheio

se sabias que eu buscaria me erguer

se sabias que eu enfrentaria o espelho.

Mundo, mundo, vasto mundo,

se eu me chamasse Antônio,

talvez não fosse revolta, nem oração.

Mundo, mundo, vasto mundo,

mais vasto é o meu grito de vida.

Eu não devia te contar,

mas esses muros,

mas essa tela,

botam a gente feroz como o diabo.

(Inspirado no poema "As Sete Faces" de Carlos Drummond de Andrade)