O conforto tem certa eloquência
Um pífio pedaço,
Que guarde alguma qualidade física
Que ocupe espaço, por menor que seja.
Uma farelo simbólico de conquista
Que tão evidentemente falta.
Almeje as nuvens, ultrapasse-as se possível.
Mantendo o crível como plano de fuga
Para que a queda não destrua
As poucas esperanças que lhe pertencem.
Triturando lentamente as poucas chances que aparecem,
Rasgando aos poucos os músculos que te carregam,
Soltando os triunfos que se chocam
Contra o chão empoeirado.
Todos veem que há algo de errado
Inclusive o erro,
Inclusive os demais errados;
Em meio aos cacos empoeirados,
E outros eufemismos que dizem o óbvio.
O ócio tolerado tem a maldita mania
De morder mais pedaços do que o oferecido,
Tentando evitar o intrínseco castigo
De representar o nada absoluto;
Tornando-se, então, algo fixo
Constante. Resoluto.
Impregnado nas linhas mais finas
Que costuram as ideias mais inacessíveis
Que, por sua vez,
Alimentarão os sentidos mais incompreensíveis,
Que ditarão a lucidez da percepção
Que tem da própria existência.
O conforto tem certa eloquência
Mas não conhece nada
Além de sua cadeira.