O conforto tem certa eloquência

Um pífio pedaço,

Que guarde alguma qualidade física

Que ocupe espaço, por menor que seja.

Uma farelo simbólico de conquista

Que tão evidentemente falta.

Almeje as nuvens, ultrapasse-as se possível.

Mantendo o crível como plano de fuga

Para que a queda não destrua

As poucas esperanças que lhe pertencem.

Triturando lentamente as poucas chances que aparecem,

Rasgando aos poucos os músculos que te carregam,

Soltando os triunfos que se chocam

Contra o chão empoeirado.

Todos veem que há algo de errado

Inclusive o erro,

Inclusive os demais errados;

Em meio aos cacos empoeirados,

E outros eufemismos que dizem o óbvio.

O ócio tolerado tem a maldita mania

De morder mais pedaços do que o oferecido,

Tentando evitar o intrínseco castigo

De representar o nada absoluto;

Tornando-se, então, algo fixo

Constante. Resoluto.

Impregnado nas linhas mais finas

Que costuram as ideias mais inacessíveis

Que, por sua vez,

Alimentarão os sentidos mais incompreensíveis,

Que ditarão a lucidez da percepção

Que tem da própria existência.

O conforto tem certa eloquência

Mas não conhece nada

Além de sua cadeira.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 09/11/2024
Código do texto: T8193210
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