ABRAÇO-ME
EPIGRAMA N° 9
“O vento voa,
a noite toda se atordoa
a folha cai
Haverá mesmo algum
pensamento essa noite?
Sobre esse vento? Sobre
essa folha que se vai?”
Cecília Meireles
ABRAÇO-ME
Abraço-me,
por ter percorrido
um longo caminho.
Por não ter corrido
de volta ao ninho,
quando a alegria
me faltou.
Abraço-me,
por ter seguido em frente.
Entre o nascente
e o poente,
o meio-dia
sempre me foi guia.
Abraço-me,
pelos amigos que fiz,
pelos sonhos
pintados de giz,
pelos horizontes
conquistados,
pelos passos dados
pelas ruas do planeta.
Abraço-me,
por não ter feito
do destino
uma roleta,
um desatino.
Por ter muito
aprendido,
a cada encontro,
a cada despedida
e nunca ter perdido
a esperança na vida.
Abraço-me,
pela solidão
não ter guarida
no meu coração.
Por ele ser
tal qual porteira,
sempre aberta
para o amor.
Que faz de cada lugar
poesia em verso,
na extraordinária
descoberta
de um novo pedaço
do Universo.
Claudio Lima
Foto: Ponte sobre o Rio Arno
Florença - Itália - Out/2016
INSCRIÇÃO
Cecília Meireles
Sou entre flor e nuvem,
estrela e mar.
Por que havemos de ser
unicamente humanos,
limitados em chorar?
Não encontro caminhos
fáceis de andar.
Meu rosto vário desorienta
as firmes pedras
que não sabem de água
e de ar.
E por isso levito.
É bom deixar
um pouco de ternura
e encanto
indiferente de herança
em cada lugar
Rastro de flor e estrela
nuvem e mar.
Meu destino é mais longe
e meu passo mais rápido:
a sombra é que vai devagar.
Do livro: Mar Absoluto e outros
Poemas – 1945
Cecília Meireles foi jornalista, pintora,
Poeta, escritora e professora brasileira.
É um nome icônico do modernismo
Brasileiro e uma das grandes poetas da
Língua portuguesa. (1901 – 1964)