nuvem de novembro
lá vem a nuvem de novembro
carregada de gotas desatadas
vem para lavar o telhado sujo
vem para lamber a namorada
o sol já caiu num buraco do horizonte
para esfriar a cabeça
depois de um dia árduo
dotado de fake news e incertezas
alguns pássaros batem asas sem rumo
procurando por algum abrigo temporário
é certo que eles darão um jeito
nem que voem no sentido anti-horário
os ventos chegam dando cambalhotas
arrastando telhas, caixas d’água, árvores caducas
corre o cara atrás do carro que caiu no rio
corre a mãe atrás do filho que se acidentou sem culpa
vem a nuvem de novembro
numa carruagem invisível
trazendo relâmpagos súditos
mordendo os lábios do perigo
quem é de fugir, se ferra
quem é de proteger, preza
quem é de ferro, retorce
quem é de fé, reza