Chega certa idade que muito se finda
Desprezíveis aqueles,
Que incutem ao próximo o dever da compaixão,
Mas não entregam o mínimo que evoque
Uma razão para fazê-lo.
Das unhas compridas
Ao último fio de cabelo,
Uma catástrofe de proporções desajeitadas,
Malquistas, enviesadas,
Que pedem por muito,
E não devolvem nada,
Sintetizando as sucatas,
Que esqueceram por ai.
Aplausos aos causos mais levianos que existem,
Juras de amor que insistem
Pelo prazer egoísta de vencer algo, ou alguém
Que valha de algo, ou esteja além
Do que em uníssono,
Chamamos de virtuoso.
Mas apenas nós.
O exemplo, o fruto do descontentamento,
O engodo, a ojeriza, o insosso,
Estes, de alguma forma, reluzem como ouro;
Nascem flores de suas pegadas,
Entopem o ar com fragrâncias diversas,
Trazem consigo uma certeza supérflua,
Que geram aplausos de seus iguais.
Se esgueiram como sombras,
Se comportam como animais,
Ao mesmo tempo que são invencíveis,
Frutos das mentes incríveis,
Restringidas apenas
Pelo que todos nós entendemos
Como realidade.
É mais fácil parar,
Ou trocar as rodas da carroça em movimento?
Pergunte aos burros que puxam a carga,
E com relinches responderão,
Que eles sabem exatamente
O que estão fazendo.
É mais fácil falar,
Ou ser conivente com o que está vendo?
Pergunte aos que dizem que já tentaram mas desistiram,
E saia de lá com a dúvida,
Se eles mesmos acreditam na mentira,
Que estão dizendo.
Resta, apenas, o que se presta
O que se faz de útil - seja pelo egoísmo,
Ou por puro altruísmo;
Aquele que não se comporta como uma estátua,
Que já não mais possui face, ou adornos,
Tornando-se apenas uma marcação
Do que supostamente deveria
Ser a lembrança de algo
Que não existe mais.
Enquanto jogarem flores,
Restarão memórias,
Que sequer possuem
Um lastro de veracidade.
Chega certa idade que muito se finda,
Incluindo
A esperança.