A maioria estática
O contraste direto entre duas etapas longínquas,
Que se dá pela distância, tempo,
Ou completa distinção das propriedades intrínsecas de cada uma,
É a melhor maneira - ou, pelo menos, a mais coesa -
Para aconchegar o espirito errante,
Que não reconhece os caminhos que trilhou,
E nem o que motivou tais andanças.
Uma ao lado da outra, despidas de suas máscaras tolas,
Expondo por completo o ridículo à ridicularização,
Vasculhando as entranhas, do apêndice ao fígado,
Do pâncreas ao coração
E não achando nada que valha a pena ser salvo.
O novo alvo é a continuação do antigo,
O velho inimigo de antes; agora atualizado,
Pronto para a mesma análise
Que fizemos com sua versão do passado.
Ao fim da operação: Nada de novo.
Nada, de novo, merece a salvação.
O mesmo punhado de conjecturas,
De incertezas e lamúrias,
E outras leituras que apenas são possíveis,
Quando nenhum obstáculo engana nossa visão.
Talvez o espírito errante não esteja tão perdido assim.
Não reconhece seus caminhos, é verdade,
E também não reconhece a si mesmo quando olha para seu interior.
A cada ano que passa, percebe novas coisas surgindo,
Demolindo as versões antigas que antes o sustentavam,
Mas já não representam mais como ele gosta de ser.
Muitas vezes é doloroso, requer certa firmeza,
Que por si só já é suficiente para desencorajar a maioria.
Mas a minoria que fica, aprende uma valiosa lição
Sobre adaptabilidade.
A maioria é estática.
Presa nos mesmos moldes que primeiro se apresentaram.
Buscas por aprovação, reclamações dia sim, dia não;
Semanas de negação
E outras maldições do mau agouro.
Réplicas perfeitas do que sempre foram,
Do que sempre ofertaram
E pelo visto, sempre ofertarão.